HISTÓRIA - O TORNEIO DE PARIS E OS CARIOCAS

É um costume, nas discussões acerbas dos torcedores de clubes rivais, desvalorizar conquistas antigas, títulos que hoje não são mais lembrados ou a que não se atribui mais o mesmo valor. Competições que não são mais disputadas e os tão falados 'torneios de verão', então, nem se fala... Discordamos dessa abordagem movida pela paixão, e sabemos que, no tempo em que ocorriam, muitos desses ditos torneios eram vistos como de grande importância, e às vezes mais cobiçados que títulos que hoje são vistos como os mais expressivos. Sabe aquelas taças que você olha na lista de títulos do seu clube, não sabe o que é, quase ninguém conhece e todos os rivais dizem que não servem para nada? Pois então... É de um desses torneios que trataremos hoje, o qual consta das galerias de três grandes clubes do Rio de Janeiro, dando especial destaque às campanhas de suas conquistas: o Torneio Internacional de Paris.


O Torneio Internacional de Paris, à sua época, foi das mais importantes competições internacionais do futebol; atraía sempre as atenções, quando movimentava a terra da cidade-luz, atraindo as maiores estrelas do planeta.

Foi criado em 1957, por ocasião dos 25 anos do Racing Club de Paris. A intenção dos franceses era criar uma competição vistosa, que reunisse as maiores potências do futebol do planeta. O sistema colocava os clubes para se enfrentarem em quatro jogos, durante dois dias, no Estádio Parc des Princes, em Paris. O torneio foi interrompido entre 1966 e 1972 - a disputa era anual - e voltou a ser disputado em 1973, a partir de quando, com exceção de 1974 e 1990, foi disputado regularmente, sendo então organizado pelo Paris Saint Geirman e seus patrocinadores. Pasmem, acabou somente em 1993. Sem dúvida nenhuma, uma competição muito bem-sucedida, de grande grife, tradição e história.

E as conquistas dos cariocas? Vamos a elas.

O Clube de Regatas Vasco da Gama, o Gigante da Colina, que já havia sido o campeão do Sulamericano de 1948 - título que vale alguns comentários numa outra oportunidade - , obteve na Taça de Paris de 1957, justamente na primeira edição do torneio, aquele que, sem exagero, talvez seja um dos troféus mais importantes de sua história. O Vasco entrou na disputa como campeão carioca de 1956, por excursionar pela Europa à época do convite; disputou contra o Racing Club de Paris, clube anfitrião, o Rot Weiss-Essen (campeão alemão de 1955 e primeiro clube alemão a jogar a Liga dos Campeões da Europa), e ninguém menos que o poderoso REAL MADRID (tricampeão da Copa dos Campeões da UEFA 1955/56/57, antecessora da Liga dos Campeões, e campeão espanhol). Em sua participação, venceu o Racing por 2 a 1 na semi-final no dia 12 de junho, e dignou-se a disputar a histórica finalíssima contra o gigante espanhol. O Vasco venceu por 4 a 3 em 14 de junho e sagrou-se campeão.

Anos depois, em 1963, foi a vez do Glorioso alvinegro carioca, o Botafogo de Futebol e Regatas, conquistar o troféu parisiense. Foi a sétima edição. Os adversários do Botafogo, campeão da Taça Rio-São Paulo de 1962 e bicampeão carioca 61/62, com o antológico escrete de Garrincha e Nilton Santos, eram, é claro, o anfitrião de sempre daquela época, o Racing, que havia conquistado o torneio em 1958 e 59, o RSC Anderletch (hexacampeão belga, uma das equipes mais fortes da época) e o Újpest FC, campeão húngaro de 1960. O Botafogo venceu o RSC com gol de Amarildo, por 1x0, em 11 de junho, e venceu a final por 3x2 sobre o Racing, o 'sempre dono da casa', em 13 de junho, meritoriamente sagrando-se campeão.

O outro carioca que conquistou tal galardão foi o Fluminense Football Club, o centenário Tricolor das Laranjeiras, que obteve a Taça de Paris por duas vezes, já na etapa em que o Paris Saint Geirman passou a organizá-lo. A primeira, em 1976, logo na época da lendária Máquina Tricolor de Francisco Horta. Os competidores não eram apenas clubes, mas também seleções; disputavam o Fluminense, a Seleção Olímpica Brasileira, o Paris Saint Geirman e um Combinado Europeu. Muitos dos jovens da Seleção Olímpica passariam a figurar na inesquecível Seleção de 1982. No Combinado Europeu, destacavam-se três jogadores da mítica Laranja Mecânica da Holanda de 1974. O Flu encantou com seu belo futebol, vencendo o PSG por 2 a 0 e conquistando a torcida francesa, vindo a conquistar a taça na final contra o Combinado Europeu. Num jogo belíssimo, venceu por 3 a 1 e foi ovacionado pelo público, conforme registram as crônicas da época.

Em 1987, o Fluminense conquistou o último título carioca da Taça de Paris, prestes a iniciar sua época de 'vacas magras'. O torneio se deu nos dias 9 e 10 de junho, tendo a participação do Flu, do campeão francês Bordeaux, do Paris Saint Geirman - que foi campeão em 86 -, e do iugoslavo Dínamo de Zagreb. O Flu venceu o PSG por 1xo, e foi campeão sobre o Bordeaux, numa vitória com gol do Washington do Casal 20.

E foi essa a trajetória carioca pelos bons ares franceses. Duas notas curiosas: primeiro, que, afora os cariocas, o Santos foi bicampeão do Torneio de Paris, e o Atlético-MG possui um título. Segundo, que ano passado, contando desta vez apenas com clubes locais, uma edição nova do Torneio foi realizada, em comemoração aos 40 anos do PSG, tendo o Bordeaux se sagrado campeão.

O Torneio de Paris é uma das mais belas páginas da história do futebol, dessas de que muitos esquecem, mas que sempre renderá interessantíssimas histórias. Até a próxima!

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